O multipartidarismo foi uma estratégia da ditadura para enfraquecer o MDB e dar sobrevida ao Arena, partido apoiador do governo militar Partido Social Democrático Social (PDS).
Reportagem do jornal O Globo deste sábado diz o contrário disso, classificando o multipartidarismo como “essencial à redemocratização”.
Na verdade, a multipartidarismo foi essencial para a atrasar a redemocratização por uma década. A reforma partidária ocorreu em 1979; a eleição direta só em 1989.
O processo de reabertura “lenta e gradual” liderado pelo presidente Ernesto Geisel (1974-1979) tinha como principal estrategista político o general Golbery do Couto e Silva, que atuou para fragilizar a oposição antes do processo de redemocratização.
O MDB vinha aumentando de tamanho desde 1974, quando venceu as eleições para o Senado ao conquistar 16 das 22 cadeiras em disputa. Em 1977, a ditadura fechou o Congresso e, a partir de 1978, passou a investir na fragmentação dos partidos.
Uma pesquisa no próprio acervo de O Globo pode comprovar que o então presidente do MDB, Ulysses Guimarães, e outras lideranças do partido lutaram contra a reforma partidária patrocinada pela ditadura militar.
Isso é dissecado na tese de doutorado da professora Maria Kinzo, que transformou seu trabalho em livro referência para todo estudante de ciência política.
Na obra “Oposição e Autoritarismo – Gênese e Trajetória do MDB”, de 1988, Kinzo relata à página 208:
“Ainda, para assegurar que o MDB não sobrevivesse intacto, pelo menos sob a mesma sigla, o projeto [de reforma partidária] tornava obrigatória a inclusão da palavra “partido” na denominação das futuras políticas. Por outro lado, a fim de impedir substanciais defecções do partido do governo, o projeto mantinha o instituto da sublegenda nas eleições para prefeito e para o Senado (…)”.
Em outro trecho na mesma página, Kinzo afirma:
“Embora legalmente dissolvidos, nem a Arena nem o MDB desapareceram de fato após a reforma partidária. Ansiosa por se ver livre de sua sigla impopular, a Arena mudou seu nome para Partido Democrático Social – PDS. Inversamente, a imagem popular do MDB, a “sigla mágica”, determinava o simples acréscimo da palavra “partido” ao nome original, como exigia a nova lei.
Na obra sobre a Arena – Partido ou bode expiatório, de 2009, a professora Lucia Grinberg ressalta à página 218:
“O fim do bipartidarismo, como a maior parte das análises enfatiza, foi uma estratégia do governo para dividir os políticos do MDB em vários partidos. Nesse sentido, o Executivo empenhou-se em restaurar o sistema multipartidário capaz de lhe permitir manter o controle do processo eleitoral e a maioria do Congresso Nacional”.
Qualquer cientista político sabe que o multipartidarismo diluiu a força do MDB, e não a da Arena.
Na verdade, a Arena é que quis acabar com este nome estigmatizado. Quando foi criado, o PDS intitulou-se um partido de “centro”. Hoje, o herdeiro do PDS é o PP, partido que se diz líder do Centrão.
Contudo, a reportagem de O Globo tem o mérito de explicar a origem do Centrão. Mesmo sem todos os detalhes, fica claro que esse grupo surgiu contra o comando do MDB sob a liderança do PFL, PDS, PTB e outros partidos menores.
Como explica o texto, apenas uma parte do MDB aderiu ao bloco. Portanto, nem do ponto de vista histórico o MDB pode ser incluído como integrante do “Centrão”.
O MDB é um partido fundado em 1966, como oposição à ditadura. Lutou contra o regime militar dentro do parlamento, e cresceu nos anos 1970 com vitórias nas eleições legislativas e em municípios pequenos, as únicas permitidas na época.
Em 1980, o partido teve de ser recriado com o nome de PMDB. Seu perfil amplamente democrático e moderado foi mantido. Ulysses Guimarães foi presidente de 1971 a 1991. Em 2026, o partido fará 60 anos.
O partido se mantém com perfil moderado, de centro. Em 2017, retomou o nome MDB, mas manteve sua logomarca usada desde a década de 1990. Em 2024, o MDB foi partido que elegeu mais candidatos, mais mulheres e mais negros em todo o País. Um total de 9.854 mandatários (vereadores, vice-prefeitos e prefeitos).
Pesquisa e Redação: Assessoria de Imprensa do MDB Nacional.